Prólogo - Into the snow in this dark night

23 de janeiro de 2010, lua crescente

A madrugada estava completamente gélida. Do lado de fora do Caern a neve se compactava no breu iluminado apenas por Luna e as estrelas. Ao sopé da entrada, próximo a uma lareira, Voz dos Espíritos estava deitado em sua forma lupina observando a paisagem noturna por uma das grandes janelas que permitiam ampla visão da paisagem fora do local. Aquela época do ano era estranhamente familiar e ele começava a recordar seus dias no Canadá, correndo pela neve com sua matilha. Entre uma recordação e outra, uma lembrança dela veio à tona e ele adormeceu embalado por sua etérea companhia.  

O theurge corria então pela neve, não sabia se era noite ou se era dia, olhou ao redor e viu todos os seus antigos companheiros de matilha. Viu seus novos companheiros de matilha. Viu as sombras que engoliram seus velhos amigos. Subitamente mergulhou no pavor dos olhos dela. Um frio lhe subiu pela espinha. Tudo escureceu e olhos vermelhos surgiram pela noite. Onde estavam seus novos companheiros? Ele uivou e as asas negras de uma grande ave o abraçaram. Seu uivo atordoado acordou todo o Caern. Olhos curiosos o rodearam. Voz dos Espíritos saiu correndo pela neve do Parque Nacional Grand Teton, em Wyoming.  



Thirdy-shots era o mais velho da matilha. Também era o único do grupo que tinha uma ocupação na cidade, morando de favor enquanto atuava como zelador na Wyotech. Era fim-de-semana e ele resolveu passar mais tempo no Caern Coração Selvagem com a matilha para treinar um pouco mais. Estava pensando nas coisas que seu mentor lhe dissera na noite anterior: “não estresse com ‘coisas’. Estressar por causa de um problema nunca vai ajudar e mais rapidamente vai fazer você perder tempo e esforço com assuntos que têm pouca probabilidade de acontecer”.

Não era como se ele o ragabash se estressasse com qualquer coisa. Ele olhava a noite pela janela do quarto, encostado na parede de madeira, enquanto achava graça do conselho regado a álcool de Archy, quando um uivo rompeu a noite vindo de outro lugar do Caern. Era Voz dos Espíritos.  



Metal-Bone observava os flocos de neve caindo fora da janela. Ele não tinha muitas lembranças da neve. Em todos os seus flashes de memória chovia, mas nunca nevava. Maldita amnésia. Quisera lembrar do que ocorrera, o que o levara até ali. Como se sentia estranho…

A constituição física enorme do ahroun não o deixava ficar despercebido enquanto sentado próximo a Voz dos Espíritos, que parecia ter pegado no sono. Ele amoleceu um pouco e também acabou adormecendo por alguns segundos. Acordou subitamente com uma voz em sua mente: “encontre o esqueleto”. Na sequência, o uivo de Voz dos Espíritos preencheu o ambiente.

Ainda atordoado, olhou para o companheiro de matilha, assim como outros que também estavam ali, demonstrou curiosidade. O lupino correu. Ele ainda tentou impedir, mas sem sucesso:

- Ei! Para onde você está indo? - enquanto a imagem se perdia na noite, do lado de fora do Caern.



Well, I’m weary and tired, I’ve done my days ridin’
Nighttime is rollin my way
The skys all on fire and the lights slowly fading
Peaceful and still ends the day
Out on the trail night birds are callin
Singin their wild melody
Down in the canyon cottonwood whispers
A Song of Wyoming for me

escute a música aqui:

Uma voz melodiosa podia ser ouvida em outro local do Caern cantarolando baixinho uma antiga canção de John Denver. Sly estava com seus fones de ouvido, deitado relaxadamente na cama, ouvindo um pouco de música e pensando, quando foi interrompido por um uivo vindo do outro lado do Caern.

- O que está acontecendo? - pensou.



Naquela noite, Montanha de Skadi tinha sido designado para auxiliar na guarda do Caern. Fazia muito frio do lado de fora, mas nada que ele já não estivesse habituado em relação ao rigoroso e sombrio inverno sueco. Ele segurou seu colar de marfim enquanto observada a lua crescente no céu. Algumas poucas estrelas estavam visíveis e as árvores, assim como o chão, já possuíam uma espessa camada de neve.

Ele se absorvera por seus pensamentos de vingança acerca de seu irmão. Nem tinha percebido o tempo passar e a madrugada já ia alta quando ouviu um uivo vindo de dentro do Caern. Só teve tempo de se virar, quando Voz dos Espíritos esbarrou nele, passando em disparada para o meio da noite.


Sopro-da-Tempestade tinha ido parar em Wyoming no rastro de sua irmã. Ali, encontrara mais do que sua vingança, fora acolhido em uma matilha. Na cidade, tinha a deliciosa Sophia e o sorrateiro Mark. Sexo e informação, quase tudo que um Senhor das Sombras precisava na vida, afinal, pelo menos era como o ragabash pensava.

Mas afinal, ali naquele Caern no meio de um parque nacional, sentia falta da vida badalada em Nova Iorque, dos bares e das mulheres. Aquilo sim que era vida. Em Wyoming, não encontrava nem metade da diversão que a Grande Maçã podia proporcionar. - Mas que merda, pensou. Até mesmo aquela neve toda seria mais interessante na cidade que nunca dorme. Por ali, na entrada principal do Caern, a única coisa que podia ouvir era um ou outro coiote ao longe. Estava uma noite tranquila. Até um uivo irromper dentro do Caern.

Voz dos Espíritos corria em desabalada carreira para o meio da noite. Sua passagem deixou uma corrente de vento gelado balançando os cabelos de Sopro-da-Tempestade.

Hominídeo

Erik curtia e relaxava aquele momento observando a paisagem coberta de neve pelo lado de fora. Aquilo era bacana. Normalmente a essa hora ele estaria ou na rua congelando o traseiro em algum canto (talvez com alguma sorte, uma garrafa de whisky também) ou no sofá de Archy fazendo qualquer coisa. Ali...ali não tinha nada pra fazer...e isso às vezes era legal também. Talvez fosse isso que Archy havia lhe falado quando disse pra não estressar com as coisas.

Só que aí um lobo uivou. Através da neve ele conseguiu ouvir o chamado profundo de Voz dos Espíritos...e tudo foi pro brejo. Os líderes do Caern não iam com a sua cara. Droga, quase ninguém ia com a sua cara. Às vezes ele até achava que Warren Archibald Wheeler, seu mentor, o Andarilho a quem chamava de Archy, também se enchia com ele às vezes. Que se foda. O importante agora era que aquela porra daquele lobo tinha estragado todo o momento.

Ele se levanta e abre a porta da casa, uma rajada de vento frio repentina lambendo as roupas quando atravessou o batente.

- Puta merda! Eu vou congelar as minhas bolas nesse frio!

Ele anda pela varanda até o parapeito e grita a plenos pulmões através da neve:

- CALA ESSA BOCA, FILHO DA PUTA! NÃO ME FAÇA IR ATÉ AÍ ARREBENTAR SEU RABO!

Em seu posto,mas com os pensamentos longe, em um tempo que ele e seus irmãos ficavam de guarda juntos, a união entre os irmão era invejável, mas infelizmente durou pouco.

" Um dia meus irmãos, nos encontraremos outra vez, e vou lhes contar como acabei com os filhos da puta que mataram vocês."


Um uivo vindo do interior do caern tira Kalf de suas lembranças, e ele sente Voz dos Espíritos esbarrando nele e indo em direção a noite. 

" O que esse cara esta fazendo ? É melhor eu ir atras dele pra ver o que esta acontecendo."


Ele parte então atras do Theurge.

A dor do passado não deixava o lupino um momento sequer. Os sonhos. Eles sempre vinham. A antiga matilha, Passo Ligeiro e Lua de Prata.

Os Presas de Gelo já não existiam mais, dizimados pela Wyrm. Ele queria vingança, queria destruir Passo Ligeiro, queria poder fazer com que seus amigos voltassem, mas sabia que não era possível.

Mas aquele sonho era o pior de todos. Ele podia sentir o cheiro de cada um des seus antigos companheiros, assim como o dos novos. Era como se a neve fosse exatamente como aquela que estava sob suas patas naquele momento. Os espíritos pareciam querer lhe dizer algo, mas ele não entendia. A ave de olhos vermelhos o envolvendo com grandes asas negras seria um agouro de morte para ele? Estaria Passo Ligeiro se aproximando de seu alvo? Ele pereceria em breve? Ou pior, será que ele perderia mais uma matilha?

As perguntas não somem enquanto ele corre pelo Parque, elas apenas se multiplicam. Por que os espíritos o torturavam com aquelas visões? Por que não diziam de uma vez o que queriam?

"Por que, espíritos? Por que?"

E então, enquanto corre, ele lança mais um uivo. Um uivo de agonia e dor.

Ralph Mendes estava fazendo das suas atividades favoritas: ouvia música e ainda cantava os versos junto com o cantor original. Ele pensava sobre seu pai, sua infância rodeada de arte e carinho.

A vida já não era mais tão simples, mas o rapaz não via o mundo como um poeta de vinte anos, ele aproveitava o melhor que o agora lhe proporcionava.

Estava distraído e foi tomado por um forte susto ao ouvir o uivo soar pelo caern. Sly levantou, tirou os fones do ouvido e começou a caminhar em direção do som. O que teria acontecido?

Sly tomou um enorme susto com o uivo de Voz-dos-Espíritos. Deu um pulo da cama e foi verificar do que se tratava. Passando pelo corredor, logo alcançou uma das salas onde o tumulto se formava. Muita gente cochichando, o que fazia um certo zumbido no ambiente. Ao chegar, Sly avistou Metal Bone com cara de desorientado no hall.

Segundos depois, Pure Heart, ancião do Caern, entrou no ambiente, com feições irritadas. Sua presença era forte, logo todos ficaram em silêncio. Os olhos negros, enigmáticos, olhavam para todos os presentes, encarando a feição de cada um.

Pure Heart:

Ele olhou para Sly e Metal-Bone e, com sua voz grave, rompeu o silêncio:

- Vocês não podem ficar sem uma designação que começam a criar problemas. Que Gaia me dê paciência e o grande Wendigo me ajude. Você e você, o que estão fazendo aqui? Vão atrás do companheiro de matilha de vocês AGORA. Assim que voltarem, quero falar com a matilha no salão principal.


Parou um pouco e fez menção de dizer mais alguma coisa, mas foi interrompido por uma voz que vinha da varanda, do lado de fora:

Tirty-shots escreveu:- CALA ESSA BOCA, FILHO DA PUTA! NÃO ME FAÇA IR ATÉ AÍ ARREBENTAR SEU RABO!

- Mas o que é isso? - e se dirigindo até a soleira da porta, virou-se para o ragabash e falou pacientemente - Se você não quer que EU arrebente seu rabo, sugiro que use essa sua garganta para algo mais útil do que gritar na varanda do Caern. Saia da minha vista agora e vá buscar o Theurge da sua matilha! - apesar da ameaça, sua voz era impassível. O tom, entretanto, era como trovões soando na noite gelada.

Logo ele olhou para a lua crescente e, transformando-se em um grande glabro, voltou para dentro resmungando.

A voz de Pure Heart o pegou de surpresa. "Puta merda, quase que eu me caguei agora". O ancião estava nervoso. Mas todo mundo que virava um lobisomem em algum momento da vida parecia que vivia nervoso. "Parece que depois que todo mundo se transforma fala pra si mesmo 'ok, daqui pra frente eu vou passar o resto da vida puto'. Depois Archy diz que eu que sou estressado".

A missão, no entanto, havia sido passada. Erik era esperto o bastante para obedecer, mas folgado o bastante para não gostar nem um pouco. Parecia que quanto menos alguém gostava dele mais mandavam ele fazer tudo. "Criolo, faz isso! Criolo, faz aquilo!".

- Cara, porque é que eu tenho que congelar meu traseiro pra arrastar aquele filho da puta aqui? - respondeu Pure Heart, mas já saindo da varanda para cumprir o que lhe havia sido confiado.

Ele esfregou as mãos contra os ombros para se esquentar. Estava fazendo frio pra caramba.

- Índio mandão filho da puta... - cochichou para si mesmo - AMOOON? Cadê você, rapaz? - gritou como quem procura o cachorro perdido.

Ethan olha a chegada de Sly, irmão de tribo galliard, fazendo um aceno para o mesmo. Logo chega o ancião e líder da seita, esbravejando sobre criar problemas...

"Criar problemas, com certeza é por causa do Roedor e do Senhor das Sombras..."

Metal-Bone ia começar a caminhar quando a voz do roedor era escutada, falando de uma forma um tanto animosa para o ancião. Espera o Roedor se juntar para ir atrás do Theurge, quando o mesmo fala em Amon...

"Quem diabos é Amon?"

- Amon? Está ficando maluco, Erik?

A pergunta não era no caso para se ter uma resposta, assim Metal-Bone, se pôe a caminhar.

- Vamos... ele não deve estar longe.

Enquanto corre pela neve do Parque Nacional, Voz dos Espíritos tenta fazer a dor passar.

"Correr não afastar dor..." - Diria sua mãe. Ela sabia sempre o que dizer quando ele era um filhote e ainda nem havia se tornado um Garou.

Passando ao seu lado, o lupino repara em um vulto negro que, assim que toma a dianteira, o fecha, fazendo com que tenha de parar bruscamente, as patas deslizando na neve.

- Quem ser? O que querer?

O lobo pergunta mostrando as presas e se preparando para atacar.

Ralph Mendes ainda um tanto quanto surpreso com tudo o que o envolvia naquela noite, não compreendeu bem a fala animosa do líder do Caern. Na verdade, ele se sentiu como na escola, quando o aluno está quieto no canto dele e a turma inteira recebe uma bronca, porque alguém não fez o que devia.

Tudo bem, deixa pra lá. Se é para ir atrás de Voz dos espíritos, sigamos. Sly cumprimenta discretamente Ethan e segue com ele, logo atrás de Thirty-shots.

O lupino vê que aquele à sua frente era Hannibal e relaxa um pouco a postura.

- Espíritos querer falar. Não falar claro. Ver matilha sumir e grande pássaro envolver Voz dos Espíritos.

Sentando na neve, o fenrir continua.

- Não saber se pássaro trazer morte. Precisar entender. Sair para pensar.

Kalf ao se aproximar, vê Hannibal conversando com o Lobo, e prefere não se intrometer , aparentemente não é nada demais, porem ele fica escutando atento os integrantes de sua matilha.

" Aparentemente não é nada,mas é melhor eu ficar de prontidão para qualquer imprevisto. "

O Lupino se cala por um momento, puxando pela memória algum detalhe que pudesse ajudar.

- Pássaro negro. Olhos vermelhos. Tudo que ver.

Voz dos Espíritos se coloca novamente em quatro patas, se chacoalhando para tirar a neve de seus pelos.

- Voltar. Consultar Godis do Caern.

E então ele percebe a aproximação dos outros companheiros de matilha que vinham chegando.

Voz dos Espíritos, ainda correndo em disparada pela neve, o mais rápido que conseguia com toda aquela camada de gelo fofo, ainda absorto por seus pensamentos, uivou novamente. Sua mente meditava sobre a impressionante ave negra de olhos vermelhos em seu sonho. Então, um vulto preto passou por ele. Tomado pelo horror de seus pensamentos, pensara que seria uma ameaça, mas no momento em que mostrou suas garras, Sopro da Tempestade mostrou sua forma lupina. Voz dos Espíritos se retraiu e começou a comentar seu sonho.

Montanha de Skadi chegou logo em seguida na sua forma lupina, mas não se pronunciou. Preferiu respeitar o diálogo dos colegas de matilha e se manter em prontidão. Não demorou muito para os demais também chegarem, todos em formas lupinas, para assim alcançar o Theurge mais rápido.

Voz dos Espíritos começou a balançar seus pêlos para tirar a camada fina de neve que já se formava sobre eles. Com a vibração do grupo chegando, o grupo, que estava em uma parte mais alta, começou a escorregar com a neve, que começou a ceder ladeira abaixo.

Pegos desprevenidos, todos escorregaram pela neve, alguns com mais graça, outros de maneira mais desengonçada, até embaixo deslizarem por um tobogã de gelo quase imparável, rodando e rodando. Quando finalmente conseguiram se fixar em quatro patas, perceberam que estavam no meio de um grande lago congelado.

Deslizando daquele jeito, o grupo teria sérios problemas em sair dali. Isso sem contar que o gelo poderia se romper. Eles não sabiam qual era a espessura da camada.

Um vento frio soprou. Luna brilhou com mais força no céu, seus raios projetados no gelo do lago revelando o reflexo de cada um dos grandes lobos que ali se encontrava. Todos contemplaram seus próprios olhos, encarando seus medos mais profundos.

Subitamente, o grupo se viu do outro lado da camada de gelo, na água excruciante, lutando pela própria vida, sendo seus próprios olhos do outro lado, olhando para seus reflexos. Aos poucos, mas não sem total agonia, o lago se inverteu, a água foi sugada para o outro lado e eles se viram novamente na parte seca.

Mas não era o mesmo mundo. Era um reflexo do mundo. Espíritos da natureza podiam ser percebidos por trás das árvores. Tudo assumiu um aspecto acinzentado e brumoso. Havia um caminho seguro no meio do lago, uma ponte de neve. Mais à frente, um grande carvalho se erguia imponente com galhos secos e, em seu topo, era possível avistar um corvo. Olhando ao redor, no alto de uma colina, um grande coiote observava a paisagem.

Luna e a Estrela Rubra brilhavam logo atrás do grande carvalho.

Antes de poder fazer qualquer coisa, a matilha é pega por um delizamento. Os garous descem pela neve até chegar a um lago congelado, onde tudo fica mais estranho do que Voz dos Espíritos poderia sonhar.

Em um momento estavam sobre o gelo e logo depois, estavam se afogando abaixo dele. Num terceiro momento estavam novamente na superfície congelada do lago, mas o lugar já não parecia o mesmo. Havia uma ponte de neve levando à margem onde um imponente carvalho estava. Em um dos galhos, um corvo repousava parecendo esperar pelo grupo.

Receoso, Voz dos Espíritos se levanta e dá alguns passos sobre a ponte de neve, se virando para olhar os companheiros de matilha.

- Seguir. Não dever ficar aqui.

Ele aguarda até que todos tenham se recomposto para poderem seguir em frente.

Depois de passar pela viagem mais louca de sua vida, Kalf se levanta , sacode o gelo ,sem ter a menor noção do que esta acontecendo. 

' - O que que está acontecendo Voz-dos-Espíritos ? '

Ethan estava calado e na sua, ultimamente a alegria não era o forte do andarilho que tentava entender em vão seus flashbacks. Ao avistar os lobos, Ethan permanecia quieto, sem tomar partido, assim até se esvaírem, de repente é pego desprevenido  pelo gelo...

Parecia ser a umbra ali, porque estavam sendo sugados, se indagava Ethan naquele momento.

A estrela rubra nos céus, faziam Ethan ficar um pouco temeroso... ele olha a sua volta para os espíritos, o corvo e o coiote, olhando para seus companheiros de matilha, que até então nem nome tinha. Hannibal era o primeiro a se manifestar, o Andarilho faz o que fora recomendado e indo para a extrema direita vai em direção ao corvo e coiote.

Não demorou muito após a saída na busca pelo Theurge para que Ethan alcançasse Erik na neve. Ótimo! Era só o que faltava: O Jason Bourne do grupo, que não lembrava de merda nenhuma da vida mas dava porrada como ninguém. "Esse filme é uma merda".

- Eu chamo todos esses filhos da puta de Amon. Me lembra um cachorro que eu tive uma vez.

Sly se junta ao grupo e eles passam para sua forma lupina, encontrando Voz dos Espíritos ali perto, que já se havia se juntado com Hannibal, o Senhor das Sombras, e Kalf.

Porém, mal a matilha se reúne, eles são pegos de surpresa pelo deslizamento rápido da neve enquanto deslizam por um tobogã de gelo. Na sua forma de lupino e com o barulho dos corpos deslizando era difícil distinguir, mas pelo menos em sua cabeça Erik gritava a plenos pulmões. "AI, GAIA!!! MINHA NOSSA SENHORA, O QUE É QUE TÁ ACONTECENDO? PUTA MERDA! AI, GAIA! AI ,GAIA!".

Quando a viagem finalmente acabou eles estavam sob uma espécie de lago congelado. Suas patas escorregavam e ele mantinha uma base aberta meio mal feita. "Relaxa. Distribui o peso, aumenta a área de contato. Fricção com o gelo. Vai dar tudo certo!"

Só que aquele gelo era medonho pra cacete! Porque de repente Erik estava do outro lado dele lutando pela própria vida...e do mesmo jeito que a visão veio ela foi embora. Nem tinha bebido tanto assim e aquele lugar era estranhasso. "Não! Não! Caralho, não mesmo!".

E falando em lugar estranho: cacete que lugar estranho! "Totó, eu tenho a impressão que não estamos mais em Kansas..."; uma ponte de neve conduzia até um grande carvalho com um corvo encabeçando a árvore. Não gostava muito de corvos; o poema de Edgar Alan Poe havia enfiado em sua cabeça que de alguma forma aquele pássaro era um mal agouro. Os filmes, no entanto, eram uma bosta. Aquele mundo, contudo, ele tinha certeza: não era o seu mundo.

Voz dos Espíritos é o primeiro a se manifestar...e ele fala daquele jeito que os lobos que têm de aprender a falar como os humanos muitas vezes falam.

- Filha da puta, eu não entendo metade das coisas que você fala - responde para Voz dos Espíritos.

Hannibal Smith por sua vez fala para se espalharem para não forçar o gelo. Mas tinha uma merda de uma ponte de neve bem no meio do caminho, entre eles e o grande carvalho.

- Se você quiser ficar com o seu traseiro aqui brincando de patinar, o problema é seu. Eu vou até aquela ponte que parece mais segura. Negões não se dão bem no gelo. A gente gosta de calor, saca? Assim que construírem um rinque de hockey aquecido, eu aprendo a jogar e assisto essa merda! Caralho, espera só até você ver o Lebron patinando! Ele vai bater no disco com a rola!

E desliza meio sem jeito até a ponte onde era mais seguro.

- Vocês vêm ou não?

Sly ainda parecia estar um tanto fora da realidade, ele estava tão concentrado na música, que era como se estivesse em um entre-lugar, quando ouviu aquele uivo. E agora, estava apenas reagindo ao que as ações o levavam. Não pensava, seguia.

E quando encontraram o Lobo e toda a matilha deslizou levada pelo gelo, Sly riu em sua mente. "Parece que o gelo resolveu externar como me sinto nesse momento, sendo levado: a natureza reflete o meu interior. Tem um nome para isso, qual seria mesmo? Deixa pra lá"

Sly ouvia sem ouvir os outros e apenas atravessa a ponte de gelo a sua frente. Ao ver os animais observando-os, o Galliard para e espera que o theurge tente desvendar algo, afinal aquilo não era filme da Disney para ele cantar e os animais falarem e cantarem com ele.